sexta-feira, 12 de novembro de 2010

...

E o meu coração dói.
Dói pelo jeito que sou tratada por algumas pessoas.
Dói por eu não conseguir ser forte e não ligar para isso.
Dói por eu querer me afastar de tudo, deixar tudo de lado e saber que fazer isso não resolveria nada.
Dói porque eu me sinto um ser irrelevante e não há quase ninguém que me faça pensar que eu não o seja.
Dói porque eu não consigo controlar essa dor e mesmo sem querer, vou deixando ela me vencer.
E simplesmente dói, por eu não querer que doa. Porque simplesmente tem que doer e eu não consigo me acostumar e não ligar.


M., 
26 de outubro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Uma carta que não pode ser entregue.

Querida vovó,
Os anos passaram devagar e rapidamente, dependendo da fase em que eu vivia, mas a tua lembrança foi algo que nunca deixou de me acompanhar.
Lembro-me da última vez que nos vimos enquanto a senhora ainda habitava o mesmo plano espiritual que eu: Estávamos em sua casa, deitadas numa rede, conversando. Eu tinha apenas 6 anos e adorava estar contigo. Também, como não poderia gostar de estar com alguém que me dava carinho e fazia-me sentir uma criança feliz, numa família feliz; que sempre fazia as minhas vontades, mimava-me e até roupas confeccionava pra mim? Alguém que me dava atenção, alguém que me amava e também amava a todos os outros componentes da nossa grande família: Esta era você. Esta é a pessoa que eu tenho guardada na mente, uma das pessoas que eu mais amei na minha vida e ainda amo.
Aquele 05 de fevereiro fora realmente estranho para mim: eu estava na casa de uma de minhas tias maternas, quando minha mãe chegou para me buscar tendo duas coisas a me dizer¹.
Fomos para casa. Vesti meu novo vestido e saímos em direção a casa que eu tanto adorava, a sua casa. Nesse dia porém, eu não estava nem um pouco animada para ir a um de meus lugares preferidos.
Minutos depois chegamos ao nosso destino. Muita gente. Pessoas com rostos tristonhos. Eu iniciei minha caminhada ao longo daqueles 20 metros- no máximo- prestando atenção entre um rosto e outro e ficando mais confusa a cada um que eu via -alguns nem me eram tão familiares. Foi aí que vi aquele caixão no meio da sala e, ao olhar para o lado, vi uma de minhas tias olhando para mim tentando ver que reação eu teria. Eu entendi o que me esperava. Mas não, eu não chorei nessa hora. Fui até o caixão e te olhei pela última vez durante dois longos minutos, então segui o meu caminho e fui para o quartinho dos fundos, onde lá sim eu chorei, deitada no colo de minha avó materna e vendo minha irmãzinha de apenas 3 anos com carinha de confusa.
Eu sabia que uma parte de mim estava indo embora. Sabia que sempre iria faltar-me algo daquele dia em diante e isso se comprovou.
Sempre sinto saudades suas, vovó. Nos meus aniversários, em minhas viagens, nos momentos de alegria, nos de tristeza... Mas principalmente nos "anos novos", quando ali vejo toda a nossa família reunida, exceto a senhora (fisicamente, pois sei que de algum modo está conosco), que teve que nos deixar cedo de mais.
Desculpe-me se eu não me tornei a neta que a senhora sempre quis ter. Se eu não sou alguém de quem se orgulharia. Eu tento melhorar quem eu sou, às vezes é bastante difícil e eu penso em ti, no quanto você gostaria de me ver feliz, no quanto gostaria que eu aprendesse com meus erros e crescesse como pessoa. Ainda tenho muito o que aprender e eu sei, que se viva estivesse, ajudaria-me.
O seu amor foi muito importante para mim. Os poucos anos de convivência que tivemos foram os melhores da minha vida, dos quais eu só guardo boas lembranças.
Obrigada por tudo, tudo mesmo, vovó. Mas principalmente, obrigada por ter existido, feito-me a criança mais feliz durante 6 anos e mostrar-me o quanto é importante amar as pessoas como se não houvesse amanhã.
É tão estranho
Os bons morrem jovens
Assim parece ser
Quando me lembro de você
Que acabou indo embora
Cedo demais...
Te amo muito,
M.
¹ Um:Eu deveria vestir o novo vestido que a senhora fez para mim. Dois: Visitaríamos a sua casa dali a alguns minutos.